quinta-feira, 14 de julho de 2011

O último doce da goiabeira – uma história de amor




Homenagem a Dila


Quando criança eu morava em São Paulo e minha avó no interior o que contribuía para que as visitas em sua casa fossem menos freqüentes do que eu gostaria.
A casa de minha avó para mim e meus irmãos era como uma chácara, muitos animais, e algumas árvores frutíferas. Lembro-me da ameixeira, da jabuticabeira, do limoeiro, mas lembro-me especialmente da goiabeira. Sempre que visitava minha avó tinha um vidro com doce de goiaba na geladeira, eu me lembro de colocar um pouco do doce num potinho de alumínio e comer saboreando aquele doce, só de pensar juro que sinto aquele gosto tão particular em minha boca, era bom demais!
Com o passar dos anos a casa simples de minha avó foi reformada e para a minha tristeza na reforma acabaram por cortar a goiabeira.
Eu já adolescente fui visitar minha avó e ela me disse que havia doce de goiaba na geladeira, era o último porque a goiabeira já não existia mais.
E como se pudesse ver, lembro de eu correr para aquela geladeira vermelha e encontrar o vidro meio escondidinho lá no fundo. Lembro de como me senti querida por minha avó ter guardado aquele doce para mim.
Eu adoro historias de avós, na relação entre avós e netos são comuns os avós se sentirem mais autorizados a expressar seus sentimentos.
Contei isso para falar de como é bom ser amado, como sentir-se especial e importante para alguém, contribui para uma boa auto-estima.
Comecei a escrever esse texto faz um tempo e o retomo agora duas semanas depois que minha avó se foi.
Ela se foi e deixou junto com as saudades a certeza de que sou mais feliz por que tive o seu amor.
Em tempos de reservas e relações distantes e superficiais o amor, o afeto, o querer bem continuam a ser essencias.
Sejam entre avós e netos, pais e filhos, maridos e esposas, irmãos, amigos ou amantes saber que provocamos no outro um brilho diferente no olhar ainda faz o coração bater mais forte.


segunda-feira, 2 de maio de 2011

Precisa-se de saúde mental.




Eu me sinto bastante incomodada quando chega ao consultório um paciente com uma doença mental crônica, que toma medicação há anos, mas que nunca recebeu um tratamento psicoterapêutico adequado.
Falar “doença mental” é preocupante devido aos rótulos e preconceitos, me refiro mais especificamente a quadros sérios de ansiedade e depressão, doenças essas muito comuns no cotidiano.
Tenho dito e repetido o quanto a Psicologia é subtilizada no Brasil.
A Psicologia é uma construção teórica e uma prática que quando bem utilizada, contribui em demasia para a qualidade de vida do ser humano.
Em muitos casos fica claro como a combinação de tratamento farmacológico e psicoterapêutico é a alternativa mais adequada para a melhora do paciente.
O que falta é informação, é interdisciplinaridade.
Muitos médicos questionam, desconhecem e ainda subestimam a aplicação da psicoterapia.
É comum ver pacientes que procuraram médicos para se consultarem acerca de uma enfermidade e encontram como resposta: “ É emocional”.
Até aí tudo bem, o problema é que o médico muitas vezes não orienta o paciente a tratar deste problema dito “emocional” e o paciente permanece doente.
Fico impressionada com o aumento da quantidade de casos de ansiedade, mas meu objetivo não é ser alarmista, e sim sensibilizar para a prevenção.
Atividade física, nutrição adequada e autoconhecimento podem contribuir para redução de estresse e suas conseqüências.
A vida hoje é complexa, lidamos com violência, competitividade, pressão para o consumo entre outras coisas, mas é preciso cuidar do humano para que essa vida possa ser prazerosa e saudável.
Na dúvida questione seu médico, pesquise, se informe.

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Sobre Psicoterapia.




Falar de si mesmo pode ser assustador.
A figura do psicólogo já há muito vincula na mídia. Muitas vezes o psicólogo é retratado de forma caricata, usando uns óculos estranhos, com expressão e cabelos de louco, fumando um cachimbo.
No entanto, a profissão a cada dia fica sendo mais conhecida, o número de cursos que formam psicólogos aumenta e por consequência um número crescente de psicólogos circula por aí.
Este profissional tem ficado mais próximo das pessoas mas, aí eu retomo a frase com que comecei este texto: “falar de si mesmo pode ser assustador.”
Mesmo o psicólogo fazendo parte do nosso cotidiano, escrevendo em revistas, jornais, falando em programas de televisão, o espaço da psicoterapia ainda é desconhecido e parece intimidar.
Em conversas com amigos no último fim de semana foi dito que muitos estudantes de Psicologia na verdade queriam apenas fazer psicoterapia.
Isto me fez refletir como ainda no Brasil é difícil chegar à terapia, claro que muitas vezes o impedimento é econômico mas em certas situações outros são os fatores impeditivos.
A terapia é um espaço de auto-conhecimento e a medida que conheço e reconheço meus erros, passo a enxergar a minha responsabilidade naquilo que me causa sofrimento e tenho que assumir essa responsabilidade, lidar com isso, me propor a mudar e deixar de transferir ao outro a razão da minha dor.
E esse processo é doloroso e aí talvez seja um ponto que contribua para a esquiva em procurar uma psicoterapia.
Tenho refletido bastante acerca do meu ofício, tenho observado a vida por aí, tenho eu mesma por anos feito terapia e por isso fica aqui meu sincero testemunho de como a psicoterapia, que no início pode parecer assustadora, pode contribuir e muito ao crescimento de quem se propor a conhecê-la.